sábado, 27 de outubro de 2012

Olhe para mim tentando parecer alguém digno da minha idade, mas com o fino cuidado de não me deixar cair em obviedades. Nunca o suficiente para que anos depois não olhe para trás com o ar rançoso e superior da experiência, mas ainda assim a mesma lata mortal, inútil e desprovida de propósito. Sigo regurgitando fragmentos de reflexões, como se fossem resultado das porcarias, da fast food, de que me alimento. Me vejo sempre distante de tudo, mas nunca próximo de qualquer coisa que me pareça engrandecedora ou carregada de sentido. Sempre um pensar que foge ao pragmatismo e que, se analisado sob este viés, poderia ser taxado como estúpido. Mas sou teimoso com o que busco e insisto em pensar que o que quer que isto seja, segue adiante de minhas seguidas desilusões ou falta de ilusões. Beberei do rio até que seque ou morrerei afogado.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Desencontro

Eu gostaria que você pudesse me ver assim, como estou, durante a madrugada, quando o eu recolhe-se a sí mesmo e se finge o mínimo. Pois o dia lança sua luz sobre as inseguraças e criamos, casca sobre casca, aquilo que não somos.
O dia nos põe no banco dos réus; a noite, dos júris. Julgamos o que nem sempre é, e somos o que quase nunca somos...
Quem sabe assim você poderia me dizer o que eu, noite após noite navegando pelos mares do ego, não fui capaz de dizer: o que sou.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Tudo que é compreendido torna-se previsível e entediante. E assim há a vida, sem porquês e portantos.
Constantina - Azul Marinho by constantina

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Ser (Always something in the in-betweens)

E assim sou não sendo, e não sendo, sou. Uma sombra amorfa de tudo e qualquer coisa; um descobrimento tardio do velho clássico; um interesse prematuro pelo novo badalado.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Palavras e devaneios

É interessante perceber as diferentes possibilidades (e impossibilidades) de sentido proporcionadas pela variaçao do vocabulário de línguas diferentes. Sempre me deparo com inúmeros exemplos, mas minha pobre memória mal me permite lembrar deste que acabo de encontrar: o sentido de "casa" no inglês (home) e a diferença em relação ao português. Sim, eu sei que existe o equivalente "lar" no português, mas me refiro à palavra de uso habitual no português brasileiro (sempre nos referimos ao lar como "casa" - como em "Vou para casa"). A palavra "lar" ganhou um sentido muito mais "doméstico", familiar... "Ela é a dona do lar", ou em formulários de inscrição "Profissão: (x)Do lar". Já "home" é muito característico: "I'm going home".

Pensava isso enquanto olhava para o céu esverdeado coberto por nuvens negras, além da rede de proteção de minha janela. Aquelas cores peculiares vistas por entre os buracos da rede de proteção me fizeram lembrar da música "Tones of Home" do Blind Melon. Uma associação "errada", diga-se de passagem, pois "Tones" quer dizer "tons", mas não o tom que se refere à tonalidade das cores. Como no português essas palavras são homônimas, a associação surgiu involuntáriamente como numa espécie de sinestesia... Os tons do céu por entre os buracos da tela de proteção, a canção e o sentimento de se estar em casa.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Reminiscência II

Quando estou num estado contemplativo, eu olho para as crianças e mergulho na ebriedade que lhes é natural e sinto tudo aquilo já fui um dia. Consciente de mim mesmo como sempre fui, amaldiçoado por essa exagerada auto-percepção (ao mesmo tempo alheia), recordo-me do quão pouco me deixei ser, sempre atento para o olhar vigilante e inquisidor dos adultos e até mesmo de outras crianças. Diziam-me como devia agir diante do outro, como ser esperto, como me vestir, como ser educado, mas nunca me disseram para ser apenas eu. Desde sempre o eu estava fadado a ser lápidado conforme um tu ou um ele(a)... uma palavra que representaria respeito, um gesto de gentileza pré-ensaiada, uma maneira qualquer de demonstrar uma falsa intenção de agradar ao outro, conforme lhes fora ensinado, mesmo que não fizesse sentido aos meus olhos. Aquele eu sempre estava ali, observando espantado os passos de uma dança que me parecia difícil compreender.
Os anos passam e certa maturidade vem. O que eu enxergava, sem compreender, parece de certa forma persistir. E então me pergunto... Seria essa visão uma triste realidade? Ou seria eu apenas mais um adolescentezinho procurando esbanjar toda sua individualidade? Apesar de os 20 anos baterem à porta e os cabelos longos que já se foram... (nada contra, só que eu realmente não ficava bem cabeludo e insistia naquela forma de indivualidade paradoxal)

sábado, 3 de outubro de 2009

Tonight's decision

Out to look for chances