segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Reminiscência II

Quando estou num estado contemplativo, eu olho para as crianças e mergulho na ebriedade que lhes é natural e sinto tudo aquilo já fui um dia. Consciente de mim mesmo como sempre fui, amaldiçoado por essa exagerada auto-percepção (ao mesmo tempo alheia), recordo-me do quão pouco me deixei ser, sempre atento para o olhar vigilante e inquisidor dos adultos e até mesmo de outras crianças. Diziam-me como devia agir diante do outro, como ser esperto, como me vestir, como ser educado, mas nunca me disseram para ser apenas eu. Desde sempre o eu estava fadado a ser lápidado conforme um tu ou um ele(a)... uma palavra que representaria respeito, um gesto de gentileza pré-ensaiada, uma maneira qualquer de demonstrar uma falsa intenção de agradar ao outro, conforme lhes fora ensinado, mesmo que não fizesse sentido aos meus olhos. Aquele eu sempre estava ali, observando espantado os passos de uma dança que me parecia difícil compreender.
Os anos passam e certa maturidade vem. O que eu enxergava, sem compreender, parece de certa forma persistir. E então me pergunto... Seria essa visão uma triste realidade? Ou seria eu apenas mais um adolescentezinho procurando esbanjar toda sua individualidade? Apesar de os 20 anos baterem à porta e os cabelos longos que já se foram... (nada contra, só que eu realmente não ficava bem cabeludo e insistia naquela forma de indivualidade paradoxal)